É comum nas palestras de divulgação que realizamos sermos perguntados sobre o poder da hipnose e a possibilidade de um indivíduo dizer ou fazer algo sem desejar sob transe hipnótico.
De fato alguns perguntam porque temem e outros porque fantasiam. Não incomum, estas questões estão ligadas ao medo da inviolabilidade dos domínios pessoais e o desejo natural da autopreservação. Também não é incomum nos depararmos com anúncios na Internet que fazem publicidade sobre o uso da hipnose como um poder de convencimento e sedução. Falam sobre atrair a atenção de pessoas através de um “poder mágico”, que “abate” os incautos e desavisados, tornando-os presa fácil.
Em geral essa publicidade é dirigida a pessoas introvertidas ou com problemas adaptativos que buscam sexo e sociabilidade.
Utilizam freqüentemente nesses anúncios ilustrações de mulheres atraentes e sedutoras absolutamente abandonada e entregue aos caprichos sexuais de um homem – no caso, a figura do “poderoso hipnotizador”, fazendo aflorar fantasias de subjugação de outrem aos próprios caprichos, vaidades e perversões.
O apelo mexe com o imaginário e a fantasia de poder e dominação psíquica, em especial com pessoas desajustadas que alimentam o desejo secreto de controlar a mente de alguém.
Tal apelo compromete a credibilidade deste valioso instrumento terapêutico e impede que muitas pessoas se beneficiem pelo medo que sentem.
Esta fantasia é muitas vezes instigada pelos artistas hipnotizadores – os hipnotizadores de palco, ou mesmo pelas produções hollyodianas que exploram as emoções através do jogo de poder e controle. Sobre esses temores, quero ressaltar que todo indivíduo tem autonomia sobre suas ações, sendo os seus desejos soberanos sobre sua vontade, ou seja, àquilo que pode imaginar e realizar.
Portanto, se um hipnotizador mal-intencionado sugerir um comportamento amoral para o indivíduo hipnotizado, este sairá automaticamente do transe, o que só não acontecerá, se este for o desejo do indivíduo hipnotizado.
Tal situação pode ser comparada com “certos” estados de alcoolismo que são comumente utilizados para justificar atos inaceitáveis: “eu estava bêbado, não sabia o que estava fazendo”.
O álcool no exemplo citado é a auto-autorização para transgredir – o que exime o indivíduo de se justificar socialmente. Paulo Madjarof Filho