“Vir ao mundo a passeio” era uma expressão frequente nos anos 60 e 70, quando a situação econômica da maioria dos países permitia e a ideologia vigente pregava uma postura diletante e observadora diante da vida. Bons tempos, dirão alguns. Outros nem conseguirão imaginar tamanha permissividade, tendendo a classificar pessoas sem um claro projeto de vida como levianas ou perdedoras potenciais. Mas será que esta classificação não é precipitada? Imaginemos que existem no mundo dois tipos de pessoas: os Realizadores e os Desfrutadores. Realizadores são pessoas com uma claríssima noção do que querem da vida. Um exemplo gritante de Realizador é o de Thomas Edison, criador da lâmpada elétrica e que, segundo contam, desapareceu da sua festa de casamento para ser encontrado sozinho em seu laboratório pesquisando... Por outro lado, chamemos de Desfrutadores as pessoas que têm como projeto de vida a vaga ambição de serem felizes. O mundo lhes provê uma série de estímulos, aproveitados quando são positivos e driblados ou passivamente aceitos quando são negativos. Quem é mais feliz? Provavelmente o Desfrutador quando as coisas dão certo, já que, em tese, nessas circunstâncias ele tem prazer imediato. Por outro lado, o Realizador não se deixa abater facilmente, uma vez que para ele qualquer contratempo é apenas prova de que falta um estágio a mais para ele atingir seus objetivos. Quem é mais produtivo? Provavelmente o Realizador, mas ele não consegue muito sem a ajuda dos Desfrutadores, pessoas que /ficam satisfeitas em contribuir para a realização alheia, desde que as tarefas envolvam uma certa dose de identidade, prazer e reconhecimento. Poucos seres humanos são 100% Realizadores ou Desfrutadores. Podemos também ter atitudes Desfrutadoras ou Realizadoras em momentos diferentes de nossas vidas ou para diferentes aspectos de nossas vidas (trabalho, filhos, hobbies). Sim, há pessoas que praticam seus hobbies como verdadeiros Realizadores, usando objetivos, metas e muito esforço, bem como pessoas que se comportam como Desfrutadores no trabalho, aproveitando as boas coisas que a empresa oferece em termos de salários, desenvolvimento pessoal e ambiente e suportando as coisas más. A ideologia vigente, principalmente a partir dos anos 80 e a ascensão dos yuppies, valoriza o Realizador. Foco, ambição e planejamento tendem a ser palavras de ordem na cartilha profissional. Entretanto, o mundo de hoje traz novas vozes que questionam esta doutrina. O livro Modernidade Líquida de Zigmunt Bauman chega a justificar o “agarre o que puder” enquanto postura profissional, uma vez que produtos, projetos e empregos serão, em essência, sempre temporários. Bill Gates é valorizado pelo seu cuidado em não desenvolver apego ou compromisso com nada, nem mesmo com as próprias criações. Tom Peters, em seu livro Reimagine! recomenda que se viva o momento como forma de garantir o bom desempenho. Enquanto o pêndulo se move, sugiro uma convergência entre o Realizador e Desfrutador. Não se trata de equilíbrio ou meio termo, mas o aproveitamento do melhor dos dois mundos: a combinação de especialização e foco com abertura para oportunidades, ambição de longo prazo com prazer de curto prazo, planejamento com flexibilidade e monitoramento E principalmente: sucesso com felicidade. Gisela Kassoy
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