Síndrome do Pânico ou Trauma? Uma nova leitura de um antigo sintoma

Há alguns anos venho estudando de forma aprofundada o TEPT e seus mecanismos e em especial a Dissociação que é a defesa primária do TEPT. Com o aumento das guerras, dos conflitos religiosos, terrorismo e violência urbana o TEPT voltou a aparecer, e com ele uma série de sintomas atuais, ente eles o Transtorno de Pânico escondido atrás da defesa primária do trauma, a Dissociação.

O novo conceito de Trauma de Robert Scaer em 2001 introduz o conceito de Barreiras. As pessoas a partir de suas experiências da vida passam a criar barreiras e limites de proteção e segurança. Um trauma é uma situação que rompe essas barreiras e limites que faz com que a pessoa paralise no tempo e no espaço. Excede todos os limites de segurança e suporte.

A Dissociação foi um termo criado por Janet no final do século XIX para descrever um estado mental onde ocorre um rompimento de consciência. Durante a Dissociação o individuo experimenta distorções de memória, afeto, percepção ou senso de identidade. É comum ocorrer durante a Dissociação alterações de percepções, como: sensações somáticas, tempo, períodos de amnésia, irrealidade e despersonalização. Em estados clínicos mais graves ocorrem sintomas de conversão, estado de fuga e desordem de personalidade múltipla (Desordem Dissociativa de Identidade).

A Dissociação ocorre quando a ansiedade se torna tão esmagadora que certos aspectos da personalidade se tornam dissociada ou se dividem um do outro. As manifestações de dissociação servem para proteger o individuo do conflito que produz a ansiedade. A Dissociação é um mecanismo de proteção psicológica ao medo e a ansiedade.

Portanto um Trauma pode estar na base do Transtorno do Pânico e é a Dissociação a causadora deste fenômeno e sintoma psíquico.

Transtorno de Pânico

De acordo com DSM-IV, o Transtorno do Pânico é uma desordem de ansiedade, caracterizada por ataques de pânico recorrentes e que pelo menos um dos ataques de pânico seja seguido de outro dentro de um mês com uma das características que se seguem:

1. Preocupação persistente sobre ter um outro ataque.

2. Preocupação com as consequências de um ataque: medo de perder o controle, ter um ataque do coração, ficar louco.

3. Uma mudança significativa no comportamento relacionado com os ataques.

As crises de pânico são entendidas como intensas, repentinas e inesperadas que provocam nas pessoas, sensação de mal estar físico e mental juntamente a um comportamento de fuga do local onde se encontra, seja indo para um pronto socorro, seja buscando ajuda de quem está próximo.

A reação de pânico é uma reação normal quando existe uma situação que favoreça seu surgimento, isto é, ele é reativo, uma reação a uma situação de vida. Estar num local fechado onde começa um incêndio, estar afogando-se ou em qualquer situação com eminente perigo de morte, a sensação de pânico é normal.

Outro critério importante é que no Transtorno de Pânico é a não reatividade, ele acontece independente de um MOTIVO, isto é, não é reativo a nada. O pânico passa a ser identificado como patológico e por isso ganha o título de Transtorno do Pânico quando essa mesma reação acontece sem motivo, espontaneamente.

Transtorno de Pânico e Medicação

Segundo Sofia Bauer, os neurônios do cérebro transmitem impulsos elétricos de acordo com os estímulos que recebem. Para passar em seqüência esta comunicação elétrica de um neurônio a outro, necessitam de neurotransmissores. São proteínas, aminopressoras, que conduzem o estímulo elétrico, ou seja, a informação ao próximo neurônio pela fenda pós sináptica.

Na fenda pós sináptica a condução do impulso é feita normalmente por neurotransmissores. A serotonina que é um neurotransmissor é responsável pela condução das idéias, emoções, ações. E esta aos poucos vai se embora pela corrente sangüínea logo depois de cumprir sua missão, mandar o impulso (estímulo) ao outro neurônio. Este esgotamento de serotonina leva os quadros de depressões, ou cansaço, ou inibição de ações. Por isso, utilizar os recaptadores de serotonina na fenda pós sináptica nos casos de depressão reativa, síndrome do pânico e fobias.

Outra medicação muito usada são os ansiolíticos. Eles bloqueiam a entrada de muito estímulo elétrico no 2º neurônio na fenda pós sináptica. A associação destes dois medicamentos normalmente é usada nos Transtornos de Pânico. Isto não cura apenas impede que a pessoa tenha crises de pânico.

O Pânico e a Formação de Memórias

Para entender o efeito de um trauma em uma pessoa é preciso entender alguns aspectos fundamentais do funcionamento da memória. Existe um tipo de memória chamada explícita ou declarativa que é mediada pelo hipocampo direito e pelo córtex orbitofrontal, esta memória é responsável pela narrativa que da sentido a uma experiência. Em todas as pessoas os eventos e situações de vida são processados nestas circutarias.

Mas também existe uma memória implícita, que armazena dados emocionais, sensoriais e somáticos. Qualquer informação que chega dos órgãos dos sentidos, Cenestesica e somáticas e dor passam por um filtro talâmico que as reconduz as várias áreas do neocórtex em função do nível e excitação. Ao mesmo tempo o tálamo envia esta informação a amígdala que em função do nível de excitação outorgará um significado emocional, a partir disto se processará um processamento declarativo.

O grande problema é quando estas informações são traumática isto aumenta o nível de excitação da amígdala o que bloqueia todo o processo.

Um trauma e seus efeitos não podem ser entendidos de uma forma apenas cognitiva, sem levar em conta os aspectos corporais. Um trauma pode provocar transtornos e sintomas como o Pânico muito antes de existir a memória declarativa. Neste caso existem apenas rastros somáticos ou emocionais em vez de acessar uma recordação verbal do trauma. Portanto muitas vezes um trauma pode provocar a sensação de Pânico sem o acesso de memórias declarativas. Como o sujeito não consegue fazer o link entre o sintoma e o trauma este sintoma muitas vezes é entendido como um Transtorno ou Síndrome de Pânico.

Traumas e Pânico

Os estudos atuais de Neurofisiologia mostram que a amígdala do hipocampo tem uma função “emocional”, agem independentemente do neocórtex. Ele pressupõe que algumas reações emocionais e memórias podem ser formadas sem a participação da consciência cognitiva do neocórtex. Quando as pessoas estão sobre forte estresse elas secretam hormônios endógenos de estresse que reforçam a consolidação da memória traumática. Ele pressupõe que a secreção massiva de neuro-hormônios, no momento do trauma, desempenha um papel na potenciação das memórias traumáticas que podem reaparecer ao longo da vida.

Traumas e Pânico

E este passado, carregado de forte teor emocional, tem uma influência nas memórias impressas para controlar nosso funcionamento presente e nossas relações atuais, tornando as pessoas mal adaptáveis. Os Sintomas de TEPT aparecem ao longo da vida sob a forma de Pânico, embora a pessoas não consigam fazer nenhuma relação com a cena traumática em função da dissociação.

Diagnóstico e Tratamento

Com a introdução desta nova variável diagnóstica para os Transtornos de Pânico, torna-se fundamental para tratamento um bom diagnóstico. É preciso que uma boa anamnese descarte a possibilidade de Transtorno de Estresse Pos-traumático. Caso aja a detecção de trauma é necessário utilizar as técnicas apropriadas, encontrar a cena traumática na origem do sintoma e dessesibilizá-la. Depois de dessensibilizada a cena os sintomas de pânico tem uma tendência ao desaparecimento.

Fontes:
BAUER, Sofia – http://www.sofiabauer.com.br/aaa2003/oque2003.htm
LEVINE, Peter (1999) – Despertar do Tigre – Summus Editorial
SCAER, R. (2001). The Body Bears the Burden: Trauma, Dissociation and Disease, Binghampton: – The Haworth Press, 2001.
SHAPIRO, Francine – Eye Movement Desensitization and Reprocessing – The Guilford Press; 2nd edition (August 6, 2001)
RIBEIRO, Gastão (2006). Apostila do curso: V/KDT e Novas Perspectivas da Psicoterapia do Trauma – Espaço Trauma, Belo Horizonte.

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