PNL e crianças

Uma situação comum: uma criança bate em outra porque esta pegou seu brinquedo. Na situação acima, o primeiro impulso (ou a alternativa frequentemente mais usada pelos adultos) é repreender a criança, dizer a ela que empreste o brinquedo – ou até mesmo obrigá-la a emprestá-lo.

Do ponto de vista da criança, isto é uma violência, Do ponto de vista do adulto, as crianças precisam ser educadas para se ajustarem satisfatoriamente ao mundo.

Ambos têm intenções positivas embutidas em seu comportamento. Só que as da criança geralmente são desconsideradas.

Um dos pressupostos da PNL afirma que todo comportamento tem uma intenção positiva. Portanto, a criança que bate em outra tem uma intenção positiva. Talvez queira mostrar que algo a desagrada, ou para proteger o que é seu, ou para livrar-se da dor de perder algo precioso para ela.

Uma das estratégias propostas pela PNL para casos como este será exemplificada com um diálogo, em que o adulto estará representado pela letra “A” e a criança pela letra “C”.

A – Emerson, você bateu no Fabrício. Posso ver que você está bravo com ele. O que aconteceu? (O adulto constata os fatos o mais objetivamente possível, evitando interpretações)

C – Ele pegou meu brinquedo.

A – Entendo. Você não quer que ele pegue seu brinquedo. (Esta é a intenção positiva do comportamento da criança). É mesmo muito ruim quando pegam nossas coisas. (O adulto está dizendo à criança que ele reconhece a intenção positiva de seu comportamento e que ela é importante). Você não quer que ele pegue suas coisas. E você conhece um outro jeito, além de bater, para mostrar a ele que você não quer que ele pegue seu brinquedo? (O adulto está verificando se a criança possui alternativas de comportamento, pois muitas crianças se comportam de forma socialmente inadequada porque não possuem alternativas – não as conhecem ou não as experimentaram).

C – Eu poderia dar um empurrão nele. Mas se ele cair, daí a professora vai ficar brava comigo (a criança criou uma alternativa e imediatamente verificou sua ineficiência). Eu poderia dizer para ele não pegar meu brinquedo e também eu não deixaria meu brinquedo jogado por aí, assim ele não o pegaria. E se isso não adiantar, daí eu chamo a professora e conto para ela ( a criança criou alternativas e fez os ajustes e previsões necessários. Caso fosse preciso, o adulto poderia ajudá-la neste processo fazendo-lhe perguntas que antecipassem possíveis dificuldades com as alternativas escolhidas).

A – Então, se ele voltar a pegar seu brinquedo, o que você vai fazer daqui para frente? (O adulto está fazendo uma ponte-ao-futuro, ou seja, está levando a criança a imaginar-se no futuro agindo com as novas alternativas. Esta é uma forma de condicionamento feito através da imaginação – visualização – para que uma resposta comportamental se automatize no futuro).

C – (A criança repete as alternativas escolhidas e se imagina no futuro – seus olhos estarão voltados para cima e à direita, no acesso visual construído, conforme explicado num artigo anterior – e verifica novamente se as alternativas lhe parecem boas tendo em vista a intenção positiva de seu comportamento).

O mesmo processo seria feito com a outra criança, a que tomou o brinquedo. Seria desejável que o processo fosse feito com as duas crianças simultaneamente.

O exemplo apresentado é esquemático e não inclui todas as possíveis respostas de uma criança e todas as intervenções possíveis por parte do adulto.

Neste exemplo, reconhece-se a legitimidade dos sentimentos da criança. Todavia, no dia-a-dia, há inúmeras situações em que isto não acontece.

Por exemplo, quando uma criança cai e se machuca, o que normalmente estamos habituados e condicionados a lhe dizer? “Não é nada, é só um cortinho” (enquanto o corte sangra e a criança sente dor). Ou “Antes de casar sara”. Assim, a criança cresce aprendendo a não confiar no que sente, a fazer de conta que o que sente não é real. Se ela fizer isto muitas vezes, poderá se “aperfeiçoar” tanto a ponto de se ferir e nem perceber, além de deixar de sentir também inúmeras outras sensações, desligando-se delas e de seu corpo.

Ou ainda, quando a criança não tolera o sabor de um alimento e é obrigada a comê-lo. Para se defender do desprazer de comer algo desagradável ao seu paladar, ela tenderá a se desligar da sensação do alimento em sua boca e poderá generalizar esta aprendizagem para todos os tipos de alimento, resultando num total desinteresse em relação à alimentação – ou talvez num consumo exagerado, uma vez que não sente quando está saciada. Em geral, temos grande facilidade para generalizar nossas aprendizagens.

A criança que não reclama de dor quando toma injeção ou quando se fere deve ser melhor observada, porque a dor é um importante sinal de alerta do organismo.

É bom também observar a criança sempre boazinha, que não reclama de nada e nunca desobedece ninguém, pois é possível que ela tenha aprendido a desconsiderar seus sentimentos e a substituí-los pelos desejos dos adultos.

O ideal seria que ensinássemos a criança a confiar em seu julgamento interno, em seus sentidos (no que vê, ouve, cheira, saboreia, em suas sensações) e sentimentos. Imagine uma criança que diz à mãe que não quer mais tomar o leite porque ele está com um gosto ruim. Quando a mãe vai finalmente verificar, depois de ter obrigado a criança a beber mais da metade do copo, constata que o leite realmente estava azedo.

O mesmo é válido em relação aos medos da criança. Se uma criança diz que tem medo do monstro do seu sonho, precisamos nos lembrar que para ela o monstro é real e reconhecer seu medo, mostrar a ela que nós o compreendemos, para então podermos conversar sobre ele. Fazemos isto para que ela aprenda a conviver com suas emoções, aprenda a expressá-las, ao invés de negá-las.

É preciso respeitar o direito que a criança tem de sentir e de fazer escolhas. Nós nem sempre podemos decidir por ela porque às vezes somente ela sabe o que é melhor para si mesma. Neste sentido, existe dentro dela uma sabedoria auto-reguladora que jamais poderia ser desperdiçada e desaprendida.

Um exemplo disto é a criança que deixa de comer algo que é oferecido pela mãe porque não sente fome. Em geral, as mães insistem, ameaçam, propõem trocas (“Se você comer tudo, eu lhe darei aquele brinquedo que você quer”). A menos que a criança esteja doente, ou esteja chantageando a mãe, ou tenha desaprendido, em geral ela sabe quando precisa ingerir alimentos e não deveria ser forçada a comer quando não sente fome pois, dentre outras coisas, isto poderá gerar obesidade no futuro.

(2a. parte)

Certa vez uma criança me confidenciou, entre lágrimas e soluços, que era muito má. Questionada sobre o porquê desta crença, ela me contou que a cada vez que a mãe encontrava algo fora do lugar, ela dizia: “Diabo de menino! Qualquer dia eu morro de tanto trabalhar”.

Uma criança se torna aquilo que fazem dela. E as declarações que ela ouve a seu respeito vão formando sua identidade, seu auto-conceito.

É necessário separar o comportamento da criança de sua identidade. Se uma criança deixa seu quarto desarrumado, a mãe poderia fazer comentários como “Seu quarto está bagunçado” e nunca “Você é bagunceiro”. Se a criança ouve comentários como este repetidas vezes, passa a acreditar que ela é isto que dizem dela e a se comportar de acordo com esta identidade.

Como regra geral, quando uma criança comete um erro, melhor seria se, ao invés de julgá-la, comentássemos objetivamente os fatos e em seguida preveníssemos para que eles não voltassem a ocorrer no futuro.

Por exemplo, à criança que deixou cair algo no chão, ao invés de lhe dizer “Parece que você tem a mão furada, derruba tudo o que pega”, melhor seria “Caiu porque você estava correndo e não segurou firme”. E também. “Da próxima vez, segure com cuidado”.

Lembramos que uma criança jamais deveria ser comparada a outra, nem para lhe dizer que ela é melhor, nem que é pior que a outra. A criança deve ser comparada apenas com ela mesma.

Se a mãe está comentando com o filho sobre sua letra no caderno da escola, poderia dizer “Hoje sua letra está mais bonita que ontem porque você usou a borracha, apontou bem o lápis e separou bem as palavras”. Utilizando-se esta estratégia, a criança terá uma informação acerca de seus resultados (um feedback) e seu auto-conceito será preservado, uma vez que ela não foi diminuída ou humilhada pela letra do dia anterior.

É preciso ainda que os pais tenham muito cuidado com os programas que instalam em seus filhos. Poderíamos comparar estes programas com óculos de lentes coloridas. Se colocarmos óculos de lentes azuis, o mundo será visto como tendo esta cor.

Há pais que dão aos filhos óculos com os quais eles poderão enxergar como as pessoas são más, perigosas ou falsas. Os filhos então passarão a enxergar estas características nas pessoas, pois para isto foram programados. E encontrarão muitas pessoas assim, porque é fato que quando passamos a procurar algo, fatalmente encontraremos.

Portanto, se nós programarmos uma criança para que ela veja no mundo e nas pessoas somente coisas negativas, estaremos dando a ela óculos de lentes cinzas, e então tudo o que ela vir terá esta cor.

Recorreremos a uma metáfora para ilustrar o que acabamos de afirmar.

Conta-se que três ministros foram enviados a um reino distante.

Ao primeiro ministro foi dito que tivesse muito cuidado porque o rei era muito violento. O primeiro ministro partiu e dias depois chegaram notícias de que ele havia sido jogado aos leões porque despertara a ira do rei.

Ao segundo ministro foi dito que tivesse muito cuidado porque o rei era traiçoeiro. Passados alguns dias, um viajante contou que o ministro fora envenenado num banquete que o rei lhe ofereceu.

Partiu então o terceiro ministro, ao qual foi dito que o rei era muito bondoso e amigável. O terceiro ministro partiu e também não voltou. Comenta-se que até hoje ele está lá com o rei, de quem é amigo pessoal e inseparável.

(3a. parte)

É muito comum encontrarmos mães (e pais) que ainda guardam as coisas que os filhos deixam jogadas, que colocam a comida no prato para eles, que escolhem a roupa que os filhos vão vestir e até dão banho no filho que já está em idade de fazê-lo sozinho. O que recomendamos para casos como este é: NÃO FAÇA O QUE SEU FILHO É CAPAZ DE FAZER SOZINHO. Autonomia e segurança são programas que instalamos (ou não) desde cedo nas crianças .

Tomando como exemplo uma excursão escolar, em geral as crianças que não possuem autonomia são as que dão mais trabalho ao professor, pois não conseguem cuidar de si mesmas.

Melhor seria para os filhos se seus pais os preparassem para toda e qualquer situação da vida, desde como preparar uma refeição simples até como proceder estando perdido num lugar estranho.

A divisão de tarefas em casa educa para a autonomia, é democrática e justa. A criança que possui obrigações em casa aprende a se organizar, a cooperar e a ser responsável. Mesmo nas famílias que possuem empregados as crianças poderiam ter suas obrigações, tais como arrumar a própria cama, buscar o jornal ou o pão.

As crianças generalizam o que aprendem. Se em casa os pais não colocam limites ao comportamento da criança, e se ela tem permissão para mexer à vontade nas coisas dos pais ou irmãos, é provável que ela o faça também na casa dos amigos. E este será um motivo mais do que suficiente para que eles deixem de convidá-la, excluindo-as de programas ou da “turma”.

Na escola, se não há conseqüências quando a criança transgride as normas (ou, o que e pior, se a escola não possui normas) é provável que ela generalize esta ausência de limites, sendo no futuro um adulto desajustado.

Vale ressaltar que as escolas alternativas, que popularizaram o estilo liberal (que valoriza mais a liberdade em todos os aspectos, a criatividade) estão revendo suas práticas, pois o tempo revelou que muitas delas não surtiram o efeito que se esperava.

Conforme matéria publicada no jornal Folha de São Paulo em 26/03/95 (pg. 1-16), “O culto à auto-estima e a indulgência com os filhos criaram nos E.U.A. gerações de crianças mal-educadas, apáticas e amorais.”

Portanto, disciplina é indispensável à vida em sociedade e à realização de qualquer objetivo na vida. Principalmente a auto-disciplina, aquela que tem a ver com uma certa organização interna, uma capacidade de programar a si próprio para atingir resultados desejados.

Ousamos dizer que disciplina é a diferença entre as pessoas que têm sucesso na vida e aquelas que falham em realizar suas metas.

Um teste para saber se uma criança possui auto-disciplina consiste em sugerir-lhe uma tarefa um tanto extensa, como por exemplo arrumar todo o seu armário.

A criança que possui disciplina saberá que a melhor forma de realizar uma tarefa extensa é dividi-la em partes menores e em seguida estabelecer uma ordem de realização.

Além disto, ela deverá demonstrar certos critérios de classificação dos objetos ao invés de amontoá-los, sem um critério que explique por que estão juntos. Ela deverá ainda calcular o tempo a ser utilizado (por exemplo, “Até a hora do jantar já terei terminado”), motivar-se pelo resultado que espera e avaliar se ele foi conseguido.

O que fazer se uma criança não passar no teste? Realizar a tarefa com ela, conforme os passos sugeridos acima, até que ela internalize as estratégias que lhe estamos ensinando. Propor tarefas diferentes e repeti-las até que a criança as domine. E acima de tudo, ensiná-la a ser perseverante, a não desistir quando surgirem as dificuldades.

Nelly Penteado

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