A Hipnoterapia Infantil

Na experiência prática clínica com crianças, sempre houve alguns impasses que me levaram as modificações do processo de atendimento destas. Este texto visa demonstrar a introdução da Hipnose à psicoterapia de crianças.

Uma criança que é encaminhada a uma psicoterapia esta presa a aquele ponto em que a linguagem termina e o comportamento continua a falar.

Ela presentifica o seu próprio sintoma associado ao conflito familiar, conjugal camuflado ou aceito pelos pais. Muitas vezes são porta-vozes da patologia familiar.

Quando falamos de psicoterapia de crianças, estamos lidando com idéias: de desenvolvimento infantil, de psicopatologia, técnicas de atendimento, idéias teóricas diversificadas. Tais idéias e conceitos causam na prática uma série de impasses. Como se tratar um sintoma difuso que, embora presente na criança como paciente identificado, é também sintoma familiar ou do casal. Muitas vezes a teoria da técnica, paradoxalmente aprisiona o psicoterapeuta.

Até alguns anos atrás a psicoterapia infantil eram realizadas com atendimentos da criança associado a uma orientação dos pais. Neste tipo de abordagem o psicoterapeuta assume um papel de onde pode opinar sobre a vida dos outros, tentando desfazer o impossível, isto é, um sintoma que esta gritando e a trama familiar.

Esta abordagem usada até hoje esbarra numa série impasses: a resistência dos pais de associar o sintoma dos filhos as suas dificuldades pessoais (sintoma familiar); a morosidade do tratamento em função do aprisionamento teórico; a utilização de aspectos teóricos antigos que não se atualizaram.

A partir destas constatações comecei a introduzir novas formas de atendimentos, isto é, a introduzir novas ferramentas como Hipnose, Tapping e os novos paradigmas em psicoterapia. Estas aproximações visaram potencializar o trabalho terapêutico com crianças. Com técnicas novas, que utilizam novos conceitos, que integram os novos conhecimentos e estratégias.

Os Sintomas

A criança que chega ao consultório traz uma demanda e um sintoma que necessitam ser atendido. Quase sempre tem uma queixa mesmo que não seja real. Muitas vezes são os familiares, amigos, professores os primeiros a suspeitar que a criança precisa de cuidados.

Entre os elementos a serem observados incluem-se os comportamentos, as condições ambientais e existenciais adversas, os problemas nas relações sociais e na escola, as alterações do sono, da alimentação, a expressão exagerada das emoções, as dificuldades em lidar com questões cotidianas, alterações da atenção e da adaptação, etc.

O Terapeuta de Crianças

Uma das maiores dificuldades que se coloca na psicoterapia de crianças é este lugar de terapeuta. Muitas e muitas vezes na pratica clínica fiquei confuso a este respeito, afinal que lugar era este que nos colocávamos. A sensação que tinha era que às vezes eu apenas brincava nada mais do que isto, mas apesar disto à criança apresentava melhoras grandes.
Ao trabalhar com crianças tem-se a oportunidade de prevenir problemas mais sérios na vida adulta. Embora um verdadeiro programa terapêutico deva incluir os pais, freqüentemente, é possível ajudar bastante à criança trabalhando diretamente com a mesma.

Com o passar dos tempos fui percebendo que estes empréstimos que fazemos de nós mesmos ao brincar com a criança é fundamental ao setting e aos procedimentos terapêuticos.

O processo terapêutico de crianças é baseado no brincar. O uso do brinquedo possibilita algo agradável à criança, além de permitir a exploração dos aspectos patológicos e a evolução da saúde emocional. A psicoterapia infantil faz uso do lúdico, ou seja, se utiliza o brincar infantil como veículo para a relação terapêutica, fazendo parte do ambiente terapêutico os brinquedos e jogos.

Uma das premissas básicas do trabalho com crianças é a utilização do Apadrinhamento, isto e, o conhecimento e sensibilidade do terapeuta em apadrinhar de forma adequada seu cliente. Portanto é importante que o terapeuta esteja disponível para brincar, pesquise, utilize técnicas adequadas de entrevista, mas que também seja amoroso, atencioso, que apadrinhe de forma efetiva proporcionando um espaço de vida, de benção e de reconhecimento.

As habilidades naturais de Apadrinhamento permitem que normalmente ocorram os processos naturais de mudanças. Para isto é necessário o treino de algumas habilidades a serem executadas pelo terapeuta: escutar com profundidade, nomear adequadamente, proporcionar espaços, ser suficientemente bom, desafiar, proteger, encorajar e abençoar.

O Pensamento Ericksoniano

Milton H. Erickson introduziu hipnose naturalista (focada na natureza do problema), contando estórias, aplicando técnicas de hipnose e levando o paciente a se libertar dos conflitos emocionais, focando basicamente em solução e utilização. Ele fundamenta o uso da hipnose “de uma forma sob medida”. O método se baseia em uma linguagem simples e de fácil acesso ao cliente, onde “utiliza” as informações e recursos do cliente para induzir um transe formal e facilitar os processos de mudança.

A idéia de uma psicoterapia focada na solução de problemas vem de encontro a uma idéia atual de Reeducação Emocional. Todo conflito (problema) é uma tentativa natural da busca de cura. Se seguirmos o que o problema procura e dermos um caminho melhor, mais seguros e sem conflitos com certeza chegarão a uma solução.

A psicoterapia Ericksoniana é regida por alguns princípios básicos, são eles: Utilização – se prima pela utilização dos conteúdos do cliente; Tratamento Sob Medida – o tratamento é sempre individualizado; 3Ms e 2Rs – motivar, metaforizar, mover, responsividade e recursos; Reorientação – orientar para o rumo certo; Comunicação – comunicação com precisão; Tratamento experiencial – usando o drama e permitir ao cliente que a terapia seja experienciada; Expectativas positivas; Recursos e Eliciação – falar ao cliente sobre soluções; Trabalhar sem a Teoria; Embrulhar para Presente – Diamante de Erickson; Responsividade – devemos sempre buscar a responsividade; Orientação de Objetivos – fazer a hipnose sempre com uma orientação em mente; Redefinição do problema – colocar o sintoma de uma forma diferente.

A Hipnose Naturalista é mais que induzir um processo formal de transe natural, é uma modalidade única e especial de fazer terapia sob medida. Milton Erickson individualizou a psicoterapia, isto é, a terapia é feita para cada cliente. Portanto, o tratamento é sempre individualizado, isto é, feito sob medida, pois ninguém é igual ao outro.

O Uso de Hipnose com Crianças

A Hipnose é uma das técnicas mais úteis no trabalho com crianças. A grande capacidade de imaginar das crianças faz com que a indução da hipnose pareça um pro­cedimento bastante simples. É como se bastasse dizer às crianças para “fingir” que está assistindo a seu programa de televisão predileto ou sendo o ser o seu super-herói favorito para se conseguir uma indução hipnótica. Mas a hipnose com crianças é aproximação que deve ser feita com muito cuidado e ética.

Colocar uma criança em transe é fácil, mas o que fazer nos processos de eliciação e mudança é que faz a grande diferença. Este curso pretende demonstrar como usar a ferramenta hipnose de forma adequada A Hipnose com crianças devem ser usados na recuperação recursos, na recuperação da liberdade de alma, é como diz Milton Erickson: não existem pessoas sem recursos, mas estados mentais sem recursos.

Uma das formas de trabalhar a eliciação é o Trabalho Simbólico. A utilização de símbolos se baseia em Sugestões que é a comunicação ou a criação de uma idéia que proporciona uma reação, fugindo ao controle da consciência. A sugestão é algo que provoca um efeito e associações com outras idéias.

Os Símbolos constituem uma das mais poderosas técnicas disponíveis de mudança, pois estabelecem uma ligação direta com as emoções e os padrões mais profundos de comportamento. Na obra Metaphors We Live by, Lakoff and Johnson (1980) mencionam que nosso sistema conceptual é metafórico, e em Women Fire, and Dangerous Things, Lakoff (1987) afirma que o pensamento é corporificado e se desenvolve através da percepção, do movimento, e da experiência física. Antonio Damásio (1999) identificou sistemas de resposta em nível corporal como aspectos complexos das emoções e, até mesmo, da consciência. Além das estruturas neurais, os estados emocionais são definidos por mudanças no perfil químico do corpo, mudanças nas vísceras, e mudanças no grau de contração dos músculos do corpo. Damásio acredita que as emoções são partes importantes de nossa normalidade homeostática e do mecanismo de sobrevivência.

A Hipnose pode também ser uma ferramenta extremamente efetiva para ajuda no tratamento de crianças hospitalizadas ou doentes. O que iremos aprender agora é um pouco do que se chama de Visualização Criativa ou Imagens Mentais. Estas visualizações ganham em efetividade quando associadas à Hipnose que é basicamente um estado de hiper-concentração.

Na Visualização Criativa ou Imagens Mentais usamos imagens para estimular respostas nos vários sistemas humanos. Podemos usar o sistema imunológico, se for para apoio em tratamentos de doenças, seja no sistema muscular, se for para treinamento de esportistas ou até no sistema emocional-cognitivo, tal como no treinamento de dessensibilização de fobias.

Um dos procedimentos que mais uso com crianças nos processos de eliciação em Hipnose com crianças é o Controle de Habilidades. Este conceito vem de encontro ao novo paradigma surgido nos últimos tempos em Psicoterapia, a Reeducação Emocional. A ideia de uma psicoterapia focada na Construção de Habilidades e na solução de problemas vem de encontro a uma ideia atual de Reeducação Emocional. Todo conflito (problema) é uma tentativa natural da busca de cura. Se seguirmos o que o problema procura e dermos um caminho melhor, mais seguro e sem conflitos com certeza chegará a uma solução.

Na prática clínica, a Hipnose pode ser usada para ensinar novas habilidades, amplificar os recursos existentes ainda latentes, associar as pessoas a novas idéias e perspectivas e para outras aplicações semelhantes no “mundo real”. Construir e ajustar habilidades são amplificações de pensamentos reais, sentimentos, percepções e comportamentos que afetam diretamente o funcionamento do cliente.

Fonte – Apostila de Hipnoterapia Infantil – 2008 – Gastão Ribeiro.
Servan- Schreiber – Curar – Editora Sá – 2004.
Scaer, R. (2001). The Body Bears the Burden: Trauma, Dissociation and Disease, Binghampton: – The Haworth Press, 2001.
Bauer, Sofia – Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo – 2001 – Psy.

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