Lidando com as emoções III

Olá amigos leitores desta coluna! Estamos concluindo uma trilogia sobre a importância do controle emocional do professor antes, durante e depois das aulas. No texto Lidando com as emoções II, discutimos sobre a postura do professor durante as aulas, proporcionando uma reflexão sobre a importância da inteligência emocional perante os alunos.

Hoje, iremos falar sobre o “depois das aulas”, onde apresentaremos uma sugestão de como o professor deve proceder para se auto-avaliar, aproveitando a própria experiência do dia-a-dia para aprimorar suas aulas.

Depois das aulas

Durante uma aula, o professor passa a maior parte do tempo em pé, enquanto fala, escreve, gesticula, raciocina, formula exemplos, cria comparações, soluciona dúvidas, caminha pela classe, enfim, enquanto realiza uma série de atividades que consomem uma quantidade razoável de energia. É de se esperar, assim, que ao final de um dia de trabalho, ele esteja fatigado tanto fisicamente quanto mentalmente.

Dependendo dos fatos que aconteceram durante as aulas, o professor pode, também, ficar emocionalmente desgastado. Às vezes, um único fato negativo pode acabar com sua motivação e fazer com que se sinta decepcionado pelo resto do dia. Em geral, quando isso acontece, ficamos obcecados com o mesmo pensamento negativo e “fechamos” nossa percepção para as outras coisas que acontecem ao nosso redor.

Nessas condições, é difícil avaliar nosso próprio desempenho de forma precisa e conscienciosa. Precisamos ter em mente que qualquer tipo de avaliação deve ser realizada com distanciamento emocional dos fatos, para que não os julguemos a partir de uma percepção distorcida da realidade.

Antes de iniciar a análise da aula dada, o professor deve, assim, se desvencilhar dos estados emocionais muito intensos, praticando um pouco de relaxamento (veremos logo a seguir).

Você pode estar perguntando se também deve praticar o relaxamento no caso de estar sentindo um forte estado emocional positivo (como euforia, por exemplo). Mesmo neste caso recomendo o relaxamento antes da análise, pois as emoções positivas também alteram nossa percepção da realidade. E o que queremos é um estado de neutralidade, para não realizarmos julgamentos unilaterais e, portanto, falhos.

1) Relaxe

O objetivo de praticar o relaxamento é, portanto, atenuar a intensidade de qualquer estado emocional exacerbado que você estiver sentindo. Acomode-se em um lugar bem confortável e focalize a atenção em sua respiração, inspirando e expirando de forma lenta e profunda.

A seguir, localize as tensões do corpo e solte os músculos que estiverem contraídos sem necessidade. Você também pode alongar os principais músculos do corpo, como por exemplo o pescoço, os ombros, os braços, as pernas e as costas.

Interrompa os diálogos internos improdutivos. Com isso, quero dizer que você deve evitar aquela “conversa” que estabelece com você mesmo, se culpando, por exemplo, por algum tópico que não conseguiu cumprir ou por algum assunto que não desenvolveu como gostaria.

Por fim, crie imagens mentais positivas. Neste momento, não é útil ficar lembrando da “cara de ponto de interrogação” que seus alunos faziam enquanto você tentava explicar a matéria, mas só se enrolava cada vez mais… Ao contrário disso, evite os pensamentos referentes à sala de aula e visualize internamente paisagens calmas, das quais você gosta e que fazem você se sentir em um melhor estado de relaxamento.

Ao terminar a sessão de relaxamento, você terá desacelerado o ritmo do seu corpo e de sua mente. Agora você está em condições de lidar com os fatos de forma mais racional e objetiva.

2) Analise os pontos positivos

Em primeiro lugar, você deve escolher um local adequado, para o qual possa voltar sempre que quiser analisar os pontos positivos que aconteceram na aula. Você também deve ter às mãos um caderno para registrar qualquer anotação que queira fazer.

Inicie a análise repassando, em sua mente, a aula dada. Vivencie novamente tudo o que deu certo e use o caderno para anotar todas as suas boas ideias e, também, os fatos interessantes que tornaram sua aula mais proveitosa. Alguns exemplos de coisas que você pode anotar são: um fato bem-humorado que você contou e que serviu para ilustrar o assunto da aula, uma boa resposta que deu a um aluno, uma atividade que você propôs e que foi realizada com sucesso pelos alunos, etc.

Uma dica muito proveitosa para este momento: enquanto vivencia novamente a aula em sua mente, conscientize-se dos sinais não-verbais de seu comportamento. Enquanto as coisas estavam dando certo na aula, é bem provável que você estivesse falando em um tom e volume de voz específicos, com gestos e postura corporal peculiares daquele momento. Dificilmente você conseguiria o mesmo resultado se estivesse cabisbaixo, com os ombros caídos, falando num volume baixo e de forma monótona…

Anote no caderno todos esses sinais de comportamento que você perceber. Agindo assim, você estará modelando suas próprias pistas de sucesso. Procure memorizá-las para poder utilizá-las quando necessário. Ao longo de várias anotações, compare-as e você poderá observar quais delas adota com mais freqüência em momentos positivos da sua vida.

Em posse dos fatos positivos e da maneira como você agiu nestes momentos, você poderá repeti-los numa próxima vez. Isso o ajudará a criar, conscientemente, outros momentos de sucesso nas suas aulas!

3) Analise os pontos negativos

O próximo passo é fazer uma lista de tudo o que não deu certo na aula. Escolha um novo lugar para o qual possa voltar sempre que quiser analisar os pontos negativos da aula. Lembre-se de ter às mãos um caderno para anotar suas observações.

Repasse em sua mente, agora, a aula dada, focalizando os fatos que não aconteceram conforme o esperado. Procure compreender o porquê dos erros, ou seja, o que levou você a agir daquela maneira.

Um dos pressupostos da PNL é: se fizermos sempre as mesmas coisas, obteremos sempre os mesmos resultados. Uma das conclusões a que podemos chegar, portanto é: se você não está conseguindo o que deseja com as atitudes atuais, mude suas atitudes.

Uma coisa fundamental a fazer, portanto, é investir um certo tempo imaginando o que você poderia ter feito de diferente para alcançar o que desejava na aula. Qual outra atividade você poderia ter sugerido para a classe? Como você explicaria aquele mesmo conteúdo de uma forma diferente? Percebendo que poderia ter agido de uma outra forma, você volta a se sentir confiante e motivado.

No caderno, você irá anotar as ideias que não funcionaram e, logo a seguir, todas as novas ideias que poderia utilizar numa próxima oportunidade. Lembre-se de que a razão para investigar nossos erros é buscar novas idéias para não repeti-los numa próxima vez, realizando assim uma crítica construtiva do nosso próprio trabalho.

Quero acrescentar uma breve explicação a respeito da escolha de locais diferentes para a análise dos pontos positivos e negativos. O motivo disto é criar uma associação entre o local e a espécie de pensamentos que você irá ter. Repetindo a análise sempre nestes mesmos lugares, você estará reforçando a associação. Depois de algum tempo, se algum dia precisar de motivação, basta se dirigir para o local onde analisa os “pontos positivos” e logo poderá se sentir confiante.

4) Faça uma “ponte para o futuro”

Para fixar as novas ideias e garantir que elas acontecerão numa próxima vez, utilizaremos esta técnica encontrada em muitos livros sobre PNL. Trata-se de um ensaio mental que lhe permite vivenciar uma situação que poderá ocorrer no futuro, planejando suas reações e seus comportamentos.

“Todos os profissionais que apresentam alto desempenho, sejam eles atores, músicos, vendedores e, especialmente, desportistas, preparam e praticam mentalmente suas ações (…). Ensaiar mentalmente é praticar na imaginação e, como corpo e mente formam um único sistema, isso prepara e aperfeiçoa o corpo para a situação verdadeira.” (O’Connor; Seymour, 1995, pp. 79 e 80).

Tudo que você deve fazer é usar a sua criatividade para imaginar-se no ambiente da sala de aula. Torne-o o mais real possível, utilizando seus principais canais sensoriais: visão, audição e tato. Ou seja: veja, em sua mente, tudo o que você veria; ouça todos os sons que você ouviria, esteja em contato com as sensações que você sentiria.

A seguir, imagine todas as suas novas ideias sendo colocadas em prática e funcionando. Você pode incrementar este ensaio mental utilizando as posições perceptuais (O’Connor, 2004, p. 39). Consiste em você imaginar uma mesma situação acontecendo a partir de três perspectivas diferentes:

a) a de “sua própria realidade, sua própria visão”. Esta é a posição com a qual estamos mais acostumados e na qual quase sempre imaginamos as coisas acontecendo. Basta você imaginar como se sentiria ao colocar em prática as suas novas ideias.

b) a de seu interlocutor (no caso, seus alunos). Aqui, você dá um “salto criativo de sua imaginação para compreender o mundo a partir da perspectiva de outra pessoa, pensar da forma pela qual ela pensa”. Nesta posição, você imagina como iria se sentir e o que iria pensar caso estivesse lá no lugar dos seus alunos.

c) a de uma terceira pessoa (um hipotético ouvinte qualquer de sua aula, que não estivesse diretamente envolvido com ela). Nesta posição, você dá “um passo para fora de sua visão e da visão da outra pessoa para uma perspectiva distanciada. Ali você pode ver o relacionamento entre os dois outros pontos de vista”. Na perspectiva de uma terceira pessoa, você pode agir como um avaliador, checando “de fora” a eficácia de suas novas estratégias

Ao transitar pelas três posições perceptuais, talvez você deseje mudar alguma coisa em suas novas ideias, percebendo que algo não funcionaria se realmente fosse adotado na prática. Caso você sinta esta necessidade de mudar alguma ideia, faça isso até você se convencer de que aquela seria realmente a melhor maneira de ensinar o assunto.

É claro que você só vai ter a certeza da eficácia no momento real da aula. No entanto, o fato de termos mais opções de ação nos coloca imediatamente num estado emocional com maiores recursos. Este é mais um grande passo para usar as emoções a nosso favor e para agirmos com inteligência emocional

Com este texto, encerramos a série de artigos sobre o controle emocional em sala de aula. Espero, realmente, que os textos tenham sido de grande utilidade para você e que o tenham ajudado a desenvolver e praticar sua inteligência emocional.

No próximo artigo, apresentaremos a estratégia de criatividade de Walt Disney e mostraremos como aplicá-la na preparação das aulas.

Referências Bibliográficas

– BERNARDES, Sirlei. Acorda Professor – PNL na Arte de Educar. Campinas: Komedi, 2003.
– CAPRIO, Frank S.; BERGER, Joseph R. Ajuda-te pela Auto-Hipnose. São Paulo: Papelivros, s.d.
– DILTS, Robert. Enfrentando a Audiência. São Paulo: Summus, 1997.
– O’CONNOR, Joseph. Manual de Programação Neurolingüística. Rio de Janeiro: Qualitymark: 2004.
– O’CONNOR, Joseph; SEYMOUR, John. Treinando com a PNL. São Paulo: Summus, 1996.
– PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional. São Paulo: Ática, 2004.
– ROBBINS, Anthony. Poder sem Limites. São Paulo: Best Seller, 2001.
– WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O Corpo Fala. Petrópolis: Vozes, 2002.
– WEISINGER, Hendrie. Inteligência Emocional no Trabalho. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.

Ricardo Luiz Marcello

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