Reflexões da mudança

“É inegável que em um grande centro como São Paulo existem as melhores oportunidades profissionais, no entanto, eu e minha esposa avaliaríamos com carinho uma mudança de trabalho para uma cidade do interior. Seria ótimo para as crianças viverem com mais segurança e qualidade de vida”, tenho ouvido isso mais constantemente. Há mais de uma década acompanho variações e dilemas na carreira de executivos e compilo aqui algumas constatações que podem auxiliar quem também está analisando um projeto profissional no interior e preocupado com o grande impacto na vida de toda a família.

A primeira constatação é de que a qualidade de vida nas grandes capitais está muito ligada à proximidade entre a casa e o trabalho. Já nos demais centros, a tão desejada ‘qualidade de vida’ tem um contexto de equilíbrio entre dois vetores: o familiar e o profissional, a isso muitos julgam ser felicidade.

Antigamente, a decisão de mudar de uma cidade como São Paulo sucedia situações traumáticas como um assalto ou sequestro-relâmpago e, por essas razões, considerava-se uma mudança com downgrade de remuneração ou cargo. Talvez por uma imagem antiga de que a remuneração executiva no interior é menor por existir menos oportunidades ou menor qualificação da mão de obra. Essa afirmação não é verdadeira, uma vez que as macro-regiões do interior com maior demanda por executivos qualificados apresentam o tripé formação universitária, infraestrutura diferenciada e diversidade de segmentos econômicos, fatores cruciais para a instalação de empresas desenvolvedoras de mercados e do ambiente executivo.

Quando se recruta no interior uma posição de nível médio é muito provável que a região ofereça o profissional, no entanto, ao buscarmos um executivo experiente para gestão geral, industrial ou financeira a busca é nivelada por cima Não importa onde os candidatos estejam, eles serão mapeados e avaliados com perspectiva de contratação, sem grandes alterações de pacote de remuneração, uma vez que os profissionais a serem considerados atuam em porte semelhante de desafios.

Aceitar uma oportunidade de carreira a mais de 150 quilômetros de casa, sem mudança física próxima à empresa, estatisticamente tem se provado inviável no longo prazo. A família acaba se acostumando com a rotina do pai ou mãe viajando, mas os riscos e o desgaste no deslocamento são reais. Aquela oportunidade em Campinas, Sorocaba ou Piracicaba para um paulistano, por exemplo, só tem sentido se após um alguns meses de avaliação da nova empresa ele (ou ela) se mudar com a família. Caso contrário, não existe conveniência de construção de relações locais e esse executivo invariavelmente acaba tomando a decisão de retornar na primeira oportunidade que aparece.

Uma questão curiosa, o executivo brasileiro tem mais mobilidade para uma expatriação do que mudar-se para uma cidade de médio ou grande porte no interior do Brasil. Sonham com a expatriação, desejando nessa oportunidade alfabetizar os filhos pequenos em um país desenvolvido. Nesse contexto, uma mudança para uma subsidiária multinacional em uma cidade no interior pode dar a você no curto prazo a visibilidade com a matriz que propicie essa futura expatriação no médio prazo de forma ainda mais sustentada.

De acordo com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) nenhum setor está imune à crise, entretanto, o agronegócio brasileiro tem se mostrado a locomotiva econômica com potencial de acompanhar a demanda mundial de alimentos até 2050. Para isso, o setor precisa de água, terra, tecnologia e talentos. Muitos talentos pelo interior do Brasil estão e serão realmente demandados. Fica aqui um convite para que os profissionais avaliem de forma mais abrangente as oportunidades que possam surgir nesse sentido.

Daniel Cunha é Sócio-Diretor da EXEC.

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