Os valores na sala de aula

Olá! É sempre um prazer recebê-lo nesta coluna, onde procuro transmitir algumas maneiras de aplicar as ferramentas da PNL na sala de aula. No último texto, discutimos o que são crenças e como elas influenciam nossas vidas. Analisamos alguns princípios importantes para um ensino eficaz e consistente e concluímos ser imprescindível que o professor acredite em seu próprio potencial e na capacidade de seus alunos para alcançar êxito no processo educativo.

Falaremos, hoje, sobre alguns princípios que norteiam nossas vidas e nos ajudam a compreender o porquê de nossos comportamentos – trata-se dos valores. Um professor tende a dar importância ao crescimento, à amizade, aos relacionamentos, ao afeto, à aprendizagem e ao respeito, entre outras coisas. No entanto, se quiser agir de maneira coerente com seu próprio modo de pensar, precisa entender o que, exatamente, essas palavras significam. Por outro lado, é importante ter consciência de que os alunos também agem baseados em um sistema próprio de valores. Identificar esses valores e respeitá-los pode fortalecer os laços empáticos entre aluno e professor, facilitando a comunicação entre ambos e tornando a aprendizagem mais eficaz.

Espero que este texto realmente lhe traga novas reflexões e o estimule a agir de forma diferente em sala de aula. Peço-lhe que realize todos os exercícios sugeridos, pois o conteúdo só será bem assimilado se for vivenciado em sua plenitude. Portanto, comece a acessar agora um estado emocional de interesse e curiosidade… e tenha uma boa leitura!

Valores

O que são valores?

São fundamentos éticos e morais “que consideramos importantes em nossas vidas. Valorizar alguma coisa significa dar-lhe importância. Naturalmente, pessoas diferentes terão valores diferentes” (O’Connor e Seymour, 1996, p. 107).

De acordo com Anthony Robbins (2001, pp. 317 e 318), valores “são simplesmente suas próprias crenças, pessoais e individuais, sobre o que é mais importante para você. Seus valores são seus sistemas de crenças sobre certo, errado, bom e mau”.

Podemos, desde já, perceber uma estreita relação entre crenças e valores. É possível sintetizar os dois parágrafos anteriores na seguinte frase: valorizamos tudo aquilo que acreditamos ser importante para nós. Da mesma forma que as crenças, assimilamos os valores “a partir de nossa experiência e do exemplo de nossa família e amigos” (O’Connor e Seymour,1995, p. 156).

Vamos esclarecer os parágrafos anteriores com uma atividade prática. Diminua o ritmo de leitura deste texto… e enquanto você entra em contato com suas sensações corporais… Com os sons que você está ouvindo nesse momento… Enquanto você nota as cores e a iluminação do ambiente onde está… Imagine uma pessoa com quem você tenha um bom relacionamento. Pode ser uma relação de amor, de amizade ou simplesmente um(a) colega. Pense em alguém que você admira… De quem gosta bastante… E enquanto você se recorda dos bons sentimentos que essa pessoa lhe desperta, pense em cinco coisas que tornam esse relacionamento tão especial. Quero que selecione cinco características que fazem a relação com essa pessoa ser diferente para você. Talvez haja amor e carinho… Ou talvez haja compreensão e respeito… Deixe as palavras virem à sua mente e utilize o tempo que for preciso para escolher as cinco características. Quando tiver terminado, retome o estado de curiosidade e atenção para continuar a leitura do texto.

Você acabou de fazer uma lista de valores para o relacionamento com a pessoa escolhida. É muito provável que tenham sido citadas palavras como “compreensão”, “respeito”, “diálogo”, “momentos felizes”, “amizade”, “boas recordações”, “amor”, “palavras doces”, “gentileza”, “demonstrações de afeto”, etc. Cada um desses valores tem um significado especial para você e são eles que regem seus comportamentos nessa relação.

Os valores são, em geral, expressos com substantivos abstratos (realização, ousadia, amor, tranquilidade, alegria, êxtase, paz, sucesso, amor, respeito, sinceridade, alegria, etc), mas podemos também usar pequenas expressões (ser amado, sentir alegria, receber elogios, etc) ou frases (“acho importante presentear as pessoas”, “é fundamental demonstrar os sentimentos”, etc) para exprimi-los. Ao longo dos próximos dias, convido você a refletir sobre os valores de outras áreas de sua vida, como trabalho, casamento, educação de filhos, lazer, saúde, etc. Além disso, se você ouvir com mais atenção o que as pessoas dizem, será possível identificar uma série de valores nas entrelinhas de suas palavras. Comece a utilizar esse recurso para fortalecer a empatia de seus relacionamentos!

A hierarquia de valores

Pode-se também classificar os valores em uma hierarquia de importância. Por exemplo: no trabalho, o que é mais importante para você? Um bom salário ou um forte sentimento de realização? Obviamente, é excelente quando podemos ter as duas coisas, embora sabemos que isso nem sempre é possível. Muitos dão mais importância ao salário, mas há quem prefira ganhar menos, em troca de uma profissão mais prazerosa.

Saber qual é a ordem de importância de nossos valores é bastante útil na hora de tomarmos alguma decisão. “As decisões são difíceis porque, geralmente, representam um conflito de valores. Por exemplo, você aceita ou não fazer um trabalho extra? Por um lado, você precisa de dinheiro extra, por outro, deseja dedicar-se mais à família. Se você souber o que é mais importante, a decisão torna-se simples” (O’Connor e Seymour, 1996, p. 108).

Volte aos cinco valores que você identificou em seu relacionamento com aquela pessoa especial. Vamos supor que você tenha escolhido “amor”, “diálogo”, “respeito”, “sinceridade” e “carinho”. Agora, se tivesse que excluir um deles da lista, qual eliminaria em primeiro lugar? Circule essa palavra e escreva ao seu lado o número “5”. Proceda da mesma maneira com cada palavra, até encontrar o valor mais importante, ao lado do qual você colocará o número “1”. Ao final, você terá em mãos uma lista de valores em ordem crescente de importância.

Congruência e Incongruência

“Estando doente devo pensar o contrário
Do que penso quando estou são.
(Senão não estaria doente),
Devo sentir o contrário do que sinto
Quando sou eu na saúde,
Devo mentir à minha natureza
De criatura que sente de certa maneira…
Devo ser todo doente – idéias e tudo”.
(poema de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa).

Apesar de soar um pouco conformista, esse poema ilustra um importante conceito de PNL: a congruência. Para Alberto Caeiro, “estar doente” e “estar são” são coisas bem distintas, que modificam por completo seu estado de espírito. Quando não está são, Caeiro transforma-se por completo, desde o que sente até suas idéias, a fim de ficar “todo doente”, e não “mais ou menos” doente…

Quando nos comportamos em harmonia com nossos valores, temos uma sensação de congruência. Segundo O’Connor (2004, p. 251), “congruência é o estado no qual suas palavras, linguagem corporal e ações, todas se complementam, concordam e apontam na mesma direção”.

A sensação de congruência “vem da compreensão de que estamos satisfazendo nossos valores com nosso comportamento presente” (Robbins, 2001, p. 318). Você se sentirá realizado na medida em que seus comportamentos e empreendimentos estiverem alinhados com os seus valores pessoais. Por isso é importante ter consciência de quais valores você cultiva em determinado contexto de sua vida e em que ordem hierárquica eles estão.

Sentimos incongruência, portanto, quando queremos realizar algo que vá de encontro aos nossos valores pessoais. Eis um bom exemplo: acredito que você já tenha “furado” uma tentativa de regime alimentar, saboreando uma deliciosa guloseima com aquela péssima sensação de culpa. Uma parte de você quis comer o doce (essa parte estava valorizando o prazer da alimentação)… Enquanto a outra tentava o advertir para não fazer aquilo (valorizando a estética corporal e a saúde). Essa sensação de “estar dividido” enquanto agimos é o que chamamos de incongruência.

Os Valores na Educação

Vamos agora, de forma vivencial, aplicar estes conceitos de PNL na sala de aula. Minha proposta é elaborarmos três listas de valores importantes para uma aula, a partir de três perspectivas diferentes: a de um professor, a de um aluno e a de um diretor de escola.

Pare novamente por uns instantes… Acomode-se confortavelmente… E enquanto uma agradável sensação de relaxamento cresce em seu corpo, imagine-se na sala de aula, à frente da classe, interagindo com seus alunos, explicando-lhes um assunto qualquer, respondendo às suas dúvidas… E à medida que vai reexperimentando a sensação de estar no papel de educador, procure responder às perguntas: como professor, o que você valoriza em uma aula? Quais de suas atitudes poderiam facilitar o entendimento dos conteúdos? O que você valoriza em um aluno? O que você valoriza em um diretor de escola? Como deve ser a estrutura de uma escola ideal? Deixe as palavras surgirem em sua mente e registre as respostas em uma folha de papel.

Quando achar que concluiu a primeira lista, levante-se e acomode-se em outro lugar. E enquanto vai sentindo aquele agradável estado de relaxamento novamente, retorne para um momento de sua vida em que estava do outro lado do jogo: você era o aluno. Procure se recordar de uma palestra a que assistiu ou de um curso qualquer que tenha feito. Se preferir, pode regressar para a época da faculdade, do ensino médio ou fundamental. E conforme vai revivendo essa época, responda às mesmas perguntas, baseado nesse novo ponto de vista. Como aluno, o que é importante em uma aula? O que é importante que você faça para assimilar os assuntos com mais eficácia? O que você valoriza em um professor? O que você valoriza em um diretor de escola? Como é uma escola ideal para você?

Ao terminar a segunda lista, vá para um outro lugar onde possa se acomodar de forma relaxada. Você vai, agora, imaginar que é o diretor ou o coordenador de uma escola. Há professores, alunos e funcionários sob sua inteira responsabilidade. Cabe a você decidir sobre a metodologia de ensino a ser utilizada nas aulas, sobre quais professores devem ser contratados, sobre como ficará a grade de aulas, entre outras atribuições deste cargo. Vivencie este ponto de vista por uns momentos e responda àquelas mesmas perguntas, com esse novo enfoque. Como diretor, o que é importante em uma aula? O que você valoriza em um professor? O que você valoriza em um aluno? Quais seriam os diferenciais da sua escola e como você gostaria que alunos e professores se sentissem nela?

Agora você tem em mãos três listas de valores, baseadas em três perspectivas distintas. Se for do seu desejo, é possível torná-las ainda mais específicas, estabelecendo a hierarquia de valores de cada uma.

A seguir, compare o conteúdo das listas e identifique quais valores estão mais evidentes. Talvez você encontre os mesmos princípios em algumas listas e isso é um sinal positivo, pois significa que suas diferentes perspectivas sobre a aula estão congruentes e sintonizadas. Por outro lado, é possível encontrarmos itens citados apenas em uma das listas. Além disso, se você dispôs os valores em ordem hierárquica, há a possibilidade de não os encontrar com o mesmo grau de importância nas listas. Assim, pense se os valores encontrados na perspectiva do “aluno” e do “diretor” podem ser aproveitados para suas ações como professor, seja dando mais importância para algum princípio, seja modificando seus comportamentos em aula.

A finalidade destes exercícios é aumentar a consciência que temos de nossos valores, a fim de agirmos em sala de aula com maior coerência, de forma mais congruente com nosso próprio modo de pensar. Assim, uma outra análise que se pode fazer é checar se estamos agindo de acordo com os valores que encontramos na própria perspectiva de “professor”. Por exemplo, se você escreveu que valoriza os relacionamentos em um contexto de aprendizagem, de que maneira exatamente você promove a interação social entre seus alunos? É muito importante termos ideais a serem alcançados, mas seria excelente se realmente agíssemos para torná-los realidade.

Por fim, lembre-se de que seus alunos também têm uma hierarquia de valores para a escola. Procure identificar estes valores no dia-a-dia das aulas, seja durante conversas informais, seja observando suas atitudes. Compreender os valores de nossos alunos pode ser a chave para uma compreensão mais profunda de suas necessidades como estudantes. O ideal seria que os valores de educadores, alunos e dirigentes estivessem sempre alinhados, para uma educação sólida e totalmente congruente.

O enfoque deste texto foi os princípios orientadores de nossas vidas – os valores. Partimos de algumas definições para o termo e entendemos que eles podem ser dispostos em ordem de importância. Compreendemos o que é congruência e a importância de buscarmos essa sensação quando agimos.

Aplicamos estes conceitos na educação, elaborando listas de valores para uma aula, baseadas em três perspectivas diferentes (professor, aluno e diretor). Espero que este texto tenha lhe proporcionado uma oportunidade para rever suas ações em sala de aula e refletir sobre suas práticas educativas. No próximo texto, falaremos sobre âncoras na sala de aula.

Bibliografia Geral

– BANDLER, Richard. Usando sua Mente: As coisas que você não sabe que não sabe. São Paulo: Summus, 1987.
– BERNARDES, Sirlei. Acorda Professor – PNL na Arte de Educar. Campinas: Komedi, 2003.
– CAPRIO, Frank S.; BERGER, Joseph R. Ajuda-te pela Auto-Hipnose. São Paulo: Papelivros, s.d.
– DILTS, Robert B. A estratégia da genialidade, vol. I. São Paulo: Summus, 1998.
– DILTS, Robert B; EPSTEIN, Todd A. Aprendizagem Dinâmica – Vol. I. São Paulo: Summus, 1999.
Aprendizagem Dinâmica – Vol. II. São Paulo: Summus, 1999.
Enfrentando a Audiência. São Paulo: Summus, 1997.
– GRINDER, John; BANDLER, Richard. Atravessando: passagens em psicoterapia. São Paulo: Summus, 1984.
– O’CONNOR, Joseph. Manual de Programação Neurolingüística. Rio de Janeiro: Qualitymark: 2004.
– O’CONNOR, Joseph; SEYMOUR, John. Treinando com a PNL. São Paulo: Summus, 1996.
– Introdução à Programação Neurolingüística. São Paulo: Summus, 1995.
– PESSOA, Fernando. O guardador de rebanhos e outros poemas. São Paulo: Cultrix, 1989.
– PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional. São Paulo: Ática, 2004.
– ROBBINS, Anthony. Poder sem Limites. São Paulo: Best Seller, 2001.
– WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O Corpo Fala. Petrópolis: Vozes, 2002.
– WEISINGER, Hendrie. Inteligência Emocional no Trabalho. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.

Ricardo Luiz Marcello

mais artigos sobre PNL na Sala de Aula

 

Cursos Online | [+]


você pode gostar também

Comentários estão fechados.

Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência. Ao navegar pelo site, presumimos que você aceita o seu uso, mas você pode desativá-lo se desejar. Aceitar Leia mais