Fale de improviso

Falar de improviso não é inventar informação. Quem pensa que falar de improviso é chegar diante de um grupo e apenas aproveitar a circunstância como fonte de inspiração para descobrir o que vai dizer está a um passo da irresponsabilidade. Essa atitude ingênua pode pôr em risco a imagem e a reputação de quem se apresenta em público. Portanto, falar de improviso, ao contrário do que algumas pessoas supõem, significa falar sem se preparar de maneira conveniente para expor um assunto.

Por exemplo, você está em uma reunião tranquilo, meio desligado da vida e de repente, em meio a um debate, aparece alguém com a brilhante ideia de convidá-lo para ir à frente e discorrer sobre o tema que está sendo discutido, sem que tivesse se preparado para apresentá-lo. Ou você mesmo, em vista do andamento dos fatos que cercam o evento, resolve tomar a iniciativa de falar sobre a matéria sem que houvesse imaginado tomar aquela decisão. Você, bem ou mal, conhece o assunto, só não havia planejado falar sobre ele. Aí está o improviso, pois ao mesmo tempo em que você vai falando é obrigado também a ordenar a sequência da exposição.

Há também situações em que o improviso, embora receba essa denominação, não é na verdade uma fala improvisada. É comum, por exemplo, ler notícias de que o presidente da República ou um governador de Estado falou de improviso em determinado evento. É evidente, entretanto, que pela relevância de alguns desses episódios, o discurso foi detalhadamente planejado com muita antecedência. Apenas não foi lido diante do público.

Não é esse o tipo de improviso que vou tratar neste texto, mas sim aquele inesperado, imprevisto.

O ouvinte recebe a informação toda como se fosse uma só um discurso que se preze possui pelo menos duas partes: uma preparação, que tem por objetivo orientar o ouvinte sobre as informações que ele desconhece e revelar quantas e quais são as partes que deverão ser cumpridas; e o assunto central, a mensagem propriamente dita. Durante a apresentação o orador cumpre didaticamente essas duas etapas consciente do momento em que faz a preparação e do instante em que desenvolve a mensagem. O ouvinte, entretanto, recebe sempre a mensagem como se fosse uma só, desde o princípio até o final. Ele não fica analisando se o orador está na fase de preparação ou no desenvolvimento da mensagem. É essa característica de como o ouvinte recebe a mensagem que permite a aplicação de uma das melhores e mais eficientes técnicas de improvisação.

O ouvinte é levado a pensar que o orador conhece e domina o assunto todo o segredo do improviso é muito simples: antes de falar a respeito do tema que é o objetivo da apresentação, comece a discorrer sobre um outro assunto que domine. Por exemplo, você pode usar informações ligadas à sua atividade profissional, ao seu hobby, à passagem de um livro que tenha sido marcante, à cena de um filme que o emocionou, a um desafio que superou, a uma viagem, a episódios de sua vida, ou da vida de pessoas que conheça. Assim, enquanto você fala sobre o assunto que conhece muito bem, tem condições de planejar a sequência da apresentação.

Com certeza em algum momento da exposição será possível fazer a ligação dessas informações que domina com a mensagem principal. Como o ouvinte recebe a mensagem como se fosse uma só o tempo todo, será induzido a pensar que você tem o domínio completo do assunto, quando na verdade o seu conhecimento é apenas da preparação, e sobre o tema principal talvez tenha apenas algumas informações. Há ainda uma outra grande vantagem em começar falando sobre um assunto que domina relacionada ao interesse produzido no ouvinte. Um bom orador, a não ser que seja obrigado pela circunstância a ser muito objetivo, não trata diretamente do assunto e seca a conversa. Não, o bom orador mesmo conhecendo o tema com profundidade e sabendo exatamente o que irá falar sobre ele, deixa para desenvolvê-lo um pouco mais no final. Separa a informação e procura torná-la mais atraente e estimulante para o ouvinte a partir do desenvolvimento daquele primeiro assunto, seu velho conhecido.

Treine essa técnica de improvisação no seu dia-a-dia. Toda vez que precisar falar sobre um tema desenvolva antes um assunto que domine muito bem. Você ficará surpreso com o resultado. Cuidado, entretanto, para não desenvolver esse primeiro assunto de maneira exagerada para que ele não pareça ser mais importante do que a mensagem principal, e especialmente não dê a impressão de estar só ganhando tempo ou sendo superficial.

Reinaldo Polito

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