Lidando com as emoções I

É com grande alegria que saúdo todos os amigos leitores desta coluna! No texto passado, refletimos sobre o papel do professor no processo de ensino e tivemos uma visão geral sobre o que podemos fazer quando aplicamos a PNL na sala de aula.

No entanto, de nada adianta ter estas qualidades e não saber lidar com as próprias emoções. Para exercer uma liderança efetiva perante a classe, o bom professor precisa desenvolver outra virtude indispensável: o controle emocional.

Iniciaremos uma série de três textos que irão abordar a importância do controle emocional antes, durante e depois das aulas. Nesta primeira parte, aprenderemos o que são estados emocionais e como podemos alterá-los. O objetivo é “fazer intencionalmente com que suas emoções trabalhem a seu favor, usando-as como uma ajuda para ditar seu comportamento e seu raciocínio, de maneira a aperfeiçoar seus resultados” (Weisinger, 1997, p. 14).

Espero que estes textos ajudem você a se aprimorar tanto profissionalmente quanto pessoalmente e que o incentivem a adotar uma postura mais ativa perante a vida, enfraquecendo a crença de que estamos à mercê de nossas próprias emoções.

Estados emocionais antes das aulas

Pare por uns instantes e reflita sobre as perguntas a seguir:

Como você se sente antes de ministrar uma aula? Como é o diálogo que estabelece consigo próprio? São palavras motivadoras, carregadas de confiança e entusiasmo ou você fica o tempo todo reprovando suas idéias? Nos momentos antes de entrar na sala, que tipo de imagens passa pela sua mente? Você tem o hábito de focalizar seus pensamentos nos problemas que podem acontecer ou nas estratégias que podem funcionar? Você imagina os alunos interessados e participativos ou com “cara de ponto de interrogação”?

Com base nas respostas que obteve, como você avalia as emoções que sente antes das aulas? São positivas ou negativas? Elas colaboram para que você tenha sucesso nas aulas ou apenas o prejudicam?

Algumas das piores sensações que um professor pode experimentar antes das aulas são: ansiedade, medo, insegurança, pessimismo, raiva, cansaço e falta de motivação. Estes estados limitam suas atitudes e pensamentos, deixando-o sem recursos para ministrar uma aula de qualidade. A boa notícia, entretanto, é que os estados são passageiros: podem e devem ser manipulados, para que se obtenha um melhor rendimento dentro da sala de aula. Estamos falando de Inteligência Emocional – o uso inteligente das emoções.

Encontramos em O’Connor um parágrafo esclarecedor. “Estados bons para a aprendizagem são a curiosidade, a fascinação, o interesse e a empolgação. Quando as pessoas estão entediadas, desanimadas, ansiosas ou hostis, nada aprendem. Os melhores professores são capazes de mudar o estado de seus alunos para bons estados de aprendizagem. Fazem isso estando em bons estados eles mesmos – estados são contagiosos” (2004, p. 84).

O que são estados emocionais?

Estado emocional é uma resultante de nossas representações internas (pensamentos), fisiologia e comportamentos.

Pensamentos ou representações internas são as imagens, sensações táteis, odores, sabores e sons que surgem em nossa mente, sejam eles criados ou recordados. Entra aqui, também, o diálogo interno – aquela conversa que estabelecemos com nós mesmos durante a maior parte do dia.

Fisiologia é o conjunto das reações bioquímicas que acontecem em nosso organismo, assim como os batimentos cardíacos, a pressão arterial, o grau de dilatação da pupila, a temperatura corporal, a concentração de açúcar no sangue, a coloração facial, etc. Não podemos manipular diretamente os elementos de nossa fisiologia, mas podemos controlá-los através dos comportamentos.

Comportamentos são nossas atitudes conscientes e inconscientes (reações espontâneas), tais como a postura corporal, gestos, tensão muscular, palavras, respiração, tom e volume de voz, entre outros.

Esses três fatores estão interligados e interagem reciprocamente uns com os outros, determinando um estado emocional. Controlar o estado emocional implica, portanto, em estarmos conscientes dos fatores citados. No entanto, temos aqui uma via de mão-dupla: se não exercermos este controle ativo sobre o processo, os estados emocionais determinarão nossos pensamentos, nossa fisiologia e nossos comportamentos, como podemos visualizar no diagrama abaixo.

Adaptado de Robbins (2001, p. 51)

Por exemplo, com relação à fisiologia, o estado de ansiedade pode caracterizar-se por batimentos cardíacos em pulso acelerado, forte pressão arterial, mãos geladas e palidez facial. Quanto aos comportamentos, o padrão respiratório é superficial e rápido, a fala é rápida e num tom de voz agudo, os gestos são rápidos e há bastante tensão muscular em pontos específicos do corpo (abdome, pescoço, maxilar inferior), podendo haver tiques nervosos. Os pensamentos estão quase sempre focados no fracasso, ou seja, nas coisas que podem dar errado; o diálogo interno é afobado ou desesperado, com ritmo rápido e conteúdo pessimista.

Como podemos manipular nossos estados emocionais?

Para pensar e agir com desenvoltura, o professor precisa estar em um estado emocional excelente, onde possa experimentar boas sensações, como confiança, alegria, entusiasmo, energia e criatividade. Ao identificar um estado emocional negativo, alguma coisa precisa ser feita. Manipular o estado emocional implica, assim, em controlar conscientemente a fisiologia, o comportamento e os pensamentos. A seguir, há algumas dicas de como podemos exercer tal controle.

Fisiologia

Já foi dito anteriormente que não podemos exercer um controle direto sobre nossa fisiologia. Podemos, na verdade, tentar controlá-la através de nossos comportamentos. Por exemplo: não podemos controlar diretamente as batidas do nosso coração, mas podemos diminuir nossa pulsação se respirarmos de forma mais lenta e profunda. Note que “respirar de forma mais lenta e profunda” é um comportamento; o resultado fisiológico é a desaceleração do pulso. Podemos, no entanto, usar a fisiologia como um “termômetro”, ou seja, como uma forma objetiva de avaliarmos nossos estados emocionais.

Infelizmente, muitas pessoas utilizam drogas, remédios e outras substâncias químicas com o objetivo de manipular as reações bioquímicas de seus corpos, conseguindo assim mudanças de estado emocional. Sabemos que o álcool, por exemplo, altera a consciência e proporciona uma sensação de relaxamento e desinibição, mas por outro lado causa dependência e danos ao organismo.

Você não precisa disso para conseguir um estado emocional mais positivo! Controlar os comportamentos e a representação interna é muito mais eficaz e não causa efeitos colaterais.

Comportamento

Você deve adequar seu comportamento ao estado desejado, ou seja: se quiser sentir alegria, você precisa fazer as mesmas coisas que faz quando está alegre. Pule, sorria, cante ou assobie uma música de que gosta. Se quiser sentir tranquilidade, acomode-se confortavelmente na sua cama ou no seu sofá predileto, respire de forma tranquila, movimente-se vagarosamente, ouça uma música que o deixe nesse estado.

Dê atenção aos vários aspectos do seu comportamento (postura corporal, gestos, tensão muscular, palavras, respiração, tom e volume de voz, etc.), imaginando como você agiria de acordo com cada um deles, em função do estado emocional que deseja criar. Se você tiver dúvidas de como fazer isso, use a criatividade e “finja que” que você já está sentindo o estado emocional desejado.

Pensamentos

O que você faria se… ganhasse na loteria? Como você se manifestaria ao ver o bilhete premiado? O que diria para você mesmo e para as outras pessoas? Você compraria um carro novo? De que cor? De qual marca e modelo? Você poderia comprar uma mansão de frente para o mar! Você poderia aplicar o dinheiro e viver apenas com o rendimento mensal, sem precisar trabalhar!

Voltando à realidade… caso tenha realmente experimentado em sua mente a sensação de ser milionário, você produziu representações internas, ou seja, você vivenciou um pouco de alegria e entusiasmo a partir de sua imaginação criativa.

Assim, para conseguir determinado estado emocional, você deve criar ou lembrar de imagens, sensações táteis, sons, odores e sabores a ele associados. Tudo que você precisa fazer é produzir, na mente, o contexto no qual sentiria o estado desejado.

Desta forma, ao associarmos as mudanças de pensamento às de comportamento, teremos uma maneira muito efetiva de alterarmos nossos estados emocionais.

Aprendendo através de um exemplo

Vamos supor que você sinta muita ansiedade antes das aulas e deseje criar um estado de tranqüilidade. Acompanhe cada uma das etapas sugeridas a seguir, baseadas no que aprendemos sobre controle emocional:

– Com relação ao comportamento, respire várias vezes de forma profunda e tranqüila. Relaxe os músculos de seu corpo, inclusive os músculos faciais. Dê atenção às sensações corporais, ao contato do seu corpo com a cadeira (ou com o local onde estiver). Se tiver que conversar com alguém, faça-o num tom de voz mais grave e num ritmo de fala mais lenta. Gesticule de forma mais lenta e harmoniosa, evitando movimentos bruscos. Se possível, procure sentar-se ao invés de ficar andando de um lado para outro.

– Quanto aos pensamentos, focalize todos os aspectos positivos de sua aula. Crie uma imagem mental dos alunos interessados e participativos. Você pode deixar essas imagens maiores e mais nítidas, mais coloridas e mais brilhantes. Imagine-se confiante e entusiasmado, falando com desenvoltura e com boa dicção. Estabeleça um diálogo interno positivo, como se você estivesse ouvindo os conselhos de um colega mais experiente. Deixe essa voz interior calma e suave para induzir seu estado de relaxamento.

Se agir assim antes de entrar na sala de aula, estará exercitando sua inteligência emocional e, com certeza, estará dando um enorme passo para anular a ansiedade, conquistando a tranqüilidade desejada.

Neste texto, pudemos aprender o que são estados emocionais, como podemos controlá-los e quais são as vantagens deste controle. Em nosso próximo encontro, daremos continuação ao assunto, discutindo as vantagens do controle emocional durante as aulas.

“O segredo para viver em paz com todos consiste na arte de compreender cada um segundo a sua individualidade.” (F. Luis Jahn)

Referências Bibliográficas

– PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional. São Paulo: Ática, 2004.
– WEISINGER, Hendrie. Inteligência Emocional no Trabalho. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.
– O’CONNOR, Joseph. Manual de Programação Neurolingüística. Rio de Janeiro: Qualitymark: 2004.
– ROBBINS, Anthony. Poder sem Limites. São Paulo: Best Seller, 2001.
– O’CONNOR, Joseph; SEYMOUR, John. Treinando com a PNL. São Paulo: Summus, 1996.
– Introdução à Programação Neurolingüística. São Paulo: Summus, 1995.
– DILTS, Robert. Enfrentando a Audiência. São Paulo: Summus, 1997.
– WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O Corpo Fala. Petrópolis: Vozes, 2002.
– CAPRIO, Frank S.; BERGER, Joseph R. Ajuda-te pela Auto-Hipnose. São Paulo: Papelivros, s.d.

Ricardo Luiz Marcello

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