A Princesa e o Grande Rei

Contaram-me que há muitos séculos atrás uma princesa de um reino muito distante não conseguia fazer com que seu povo prosperasse. Todos acreditavam no potencial daquelas terras, mas não havia empenho, dedicação e comprometimento. Todas as condições eram favoráveis, mas ainda assim algo faltava.

A princesa Eva Soura pediu para que o seu mais notável conselheiro realizasse visitas a outros reinos e trouxesse alguma idéia ou metodologia que pudesse ser aplicada. E assim o conselheiro Eli Saab Tudu partiu para a sua longa jornada.

Dois anos se passaram e o conselheiro voltou com notícias animadoras e trouxe com ele um famoso Rei de um país oriental que haveria de ajudar a Princesa Eva e seu reino.

Decidida a resolver seus problemas a qualquer preço, contratou o Rei Fran Ki Sin Atra para dar-lhe uma consultoria.

Impressionados ficaram a princesa e todos quanto tiveram contato com o Rei Fran. Sua bela voz, postura, bom humor e as histórias que contava sobre seus feitos no seu país e em inúmeros outros que auxiliara. Pagaram-lhe preço exorbitante pela sua ajuda.

Imediatamente começaram a trabalhar. O Rei Fran, com o objetivo de transformar aquele reino em poderoso e proporcionar melhor qualidade de vida aos seus habitantes, chamou todos os sábios e conselheiros, artesãos, pescadores e lideranças e a eles mostrou seus métodos e ferramentas. Bem verdade que ninguém entendeu muito o método Trubisco e a ferramenta Trirosqueta. Entretanto como eram palavras estrangeiras, pouco ligaram. Se outros reinos aplicaram e tiveram resultados: O importante era aplicar.

A metodologia Trubisco já vinha apresentando resultados em vários reinos e consistia na execução paralela, de efeito cósmico e deslumbrante, das melhores competências alicerçadas na conjugação de esforços claudicantes e efêmeros dos populares do reino. A ferramenta Trirosqueta, fator decisivo na aplicação da metodologia, nada mais era do que um conjunto de aplicações estatísticas onde o responsável tinha como ápice à solução de conflitos degenerativos na consecução de suas tarefas diárias. Um extenso programa de treinamento de três semanas, com dados extraídos dos principais reinos e métodos de aprendizagem e de participação ativa, produziam a sinergia necessária para o atingimento dos resultados em equipes multidisciplinares ou afins.

Durante dois anos o Rei Fran Ki conseguiu resultados. O reino cresceu e as pessoas, mesmo sem muita convicção, se desenvolveram. Um sucesso atrás de outro. Vez por outra quando alguém queria aplicar sozinho a ferramenta Trirosqueta e não sabia como; o Rei Fran usava então o método Xá Cumigo e tudo se resolvia.

Tanto tempo longe de seu reino e com inúmeros pedidos de outros países e reinos, para sua prestimosa ajuda, o Rei Fran teve que partir deixando com a Princesa Eva Soura diversos livros e escrituras sobre os seus métodos.

Não demorou muito para os problemas aparecerem. Ninguém sabia como aplicar o método Trubisco com eficácia e a ferramenta Trirosqueta com eficiência. Eli Saab Tudu tentou entender os escritos que o Rei Fran deixou. Não conseguiu. Tudo estava numa língua desconhecida e com palavras incompreensíveis até para o mais sábio. O reino em pouco tempo voltou ao que era anteriormente e em alguns lugares ficou até pior.

A Princesa Eva Soura convocou uma grande reunião com todas as lideranças do reino e pediu explicações, idéias e saídas. O jovem conde Far Hemos Par Serias conseguiu, com poucas palavras, fazer o diagnóstico do que havia acontecido:

– O Rei Fran Ki Sin Atra em nenhum momento assegurou a participação plena de quem quer que fosse do reino no processo de diagnóstico e na aplicação dos seus conhecimentos;
– Usou um modelo de intervenção que não se aplicava aquele Reino;
– Não ensinou as pessoas;
– Não ajudou a identificar as reais causas dos problemas;
– Não deixou ninguém do reino apto a resolver sozinho se os mesmos problemas reaparecessem; e
– Ninguém do reino soube definir o que queria e que resultados deveria alcançar

O jovem conde foi aplaudido de pé durante vários minutos. Colocado pela Princesa Eva como novo conselheiro do reino chamou todos para uma nova reunião com o objetivo de identificarem juntos as reais causas do problema, as melhores formas de solucioná-lo e utilizar nos trabalhos metodologias e ferramentas que fossem compreensíveis e ajustadas à realidade do reino.

Não sei se foram felizes para sempre. Dizem que aprenderam a contratar ajuda externa. Ainda contam que apesar dos problemas todos estão concentrados nas soluções e não nas promessas. O foco deixou de ser o que os outros fazem. Passou a ser o que fazem e como fazem.

Armando Ribeiro

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